Hilda Pimentel
Teodolina Rodrigues Pimentel nasceu em Araripe-CE, aos 09 de junho de 1922. Filha de Maria Rodrigues Filha e Fernandes Pimentel de Araújo. Foi batizada na igreja matriz de Santo Antônio do Araripe e recebeu como padrinhos o senhor Antonio Rodrigues e Maria Eulalia da Silva.
Estudou as primeiras letras com professores particulares, muito comum na época, e em escolas locais. Contudo, advinda uma família de agropecuaristas, foi levada a estudar na cidade do Crato-CE, o centro educacional, cultural e social mais avançado do Cariri Cearense. Ainda mais, foi estudar no colégio mais renomado da época: Colégio Santa Teresa de Jesus. Ali iniciaria os estudos mais adiantados, o curso ginasial.
Acredita-se que em um dos períodos de férias do Colégio Santa Tereza de Jesus, e voltando a casa dos pais, tenha conhecido e se enamorado do já viúvo e com filho, Major Torres, com o qual se casou, em 1940, aos 18 anos de idade, e não mais retornou mais ao Colégio Santa Tereza de Jesus, em Crato-CE.
Após o casamento passou a residir no Sítio Passagem Funda, nas imediações do Distrito de Alagoinha/Araripe-CE; propriedade do Major Torres. Fez-se mãe de sete filhos, dos quais se criaram cinco. Muito cuidadosa com os filhos e sempre preocupados com a educação destes, e quando já encontravam-se em idade escolar, adquiriu uma casa na cidade de Campos Sales-CE, cidade de educação já elogiada no Cariri Oeste, àquela época, onde fixou residência com os filhos a fim de lhes dá a melhor educação que lhe era possível segundo as suas possibilidades.
Em abril de 1952, acometida de dores, foi atendida pelo Dr. Meton. O diagnóstico foi, possivelmente, uma crise de apendicite. Teodolina Rodrigues Pimentel foi a óbito em 06 de abril de 1952, vivendo apenas 12 anos de casada e trinta de idade, deixando cinco filhos.
Exatamente pela pouca idade dos seus filhos, ainda crianças e pré-adolescentes, desconhecedores da importância da mãe, figura a ser lembrada pela sociedade como entusiasta da educação, quase nada se guardou dos seus escritos e objetos pessoais referentes a sua educação no Colégio Santa Tereza de Jesus – Crato-CE. No entanto, resistiu ainda ao tempo, sob a posse do seu filho Francisco Torres Pimentel e sua esposa Graça Elói, um dos cadernos que utilizou no Colégio Santa Tereza de Jesus – Crato-CE, e que registra atividades escolares. Eis o único registro escolar de Teodolina Rodrigues Pimentel.
Após a morte de Teodolina, o Major Torres, casou-se novamente a fim de melhor cuidar dos filhos ainda pequenos.
Infância e Adolescência
Pouco se sabe da infância de Teodolina, mas é lógico pensarmos que se tratava de uma menina filha de pais ricos, com base em relatos e no estilo de vida dos descendentes. Para a época, riqueza se fazia de posse de terras e rebanhos. Há relatos de que seu pai era latifundiário e pecuarista. Sabe-se que, naquela época, só os pais muito ricos e de conhecimento "adiantado" é que se preocupavam com a educação escolar dos filhos. Pois era mais comum a vida rotineira e continuada de os filhos sertanejos seguirem a rotina dos pais: de casa para a roça. Alguns pais ainda procuravam alfabetizar os filhos com os professores particulares que chegavam raramente nas casas dos sítios e que também pouco sabiam. No entanto, Teodolina teve o privilégio de nascer numa família que não contentou-se em alfabetizá-la somente, mas de encaminhá-la para a cidade de Crato-CE, o maior centro educacional, cultura e social do Cariri e ainda mais, matriculá-la no melhor colégio daquela cidade: Colégio Santa Tereza de Jesus.
Os resquícios familiares em bens e parentes de Teodolina estão encravados no Distrito de Alagoinha/Araripe-CE. Sede Araripense da Família Rodrigues, uma das famílias de Teodolina.
O COLÉGIO SANTA TEREZA DE JESUS E SUA FILOSOFIA
Segundo Ivaneide Severo, o Colégio Santa Teresa de Jesus (Crato-CE), nasceu da necessidade de se ter uma escola voltada para a preparação das moças do município de Crato-CE, com o intuito de formá-las para o lar e a vida na sociedade. Com o despontar da novidade, o colégio passou a abranger também toda a região, sendo o Cariri Cearense, Paraibano e Pernambucano.
O Colégio Santa Tereza de Jesus foi fundado em quatro de março de 1923, pelo primeiro Bispo da Diocese Nossa Senhora da Penha, Crato-CE, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, acompanhado da religiosa Madre Ana Couto.
O colégio a princípio recebeu o nome de Santa Matriarca do Carmelo, a quem Dom Quintino dedicava especial devoção, só mais tarde foi chamado Santa Tereza de Jesus.
A congregação iniciou sua missão evangelizadora e educacional, com as irmãs, Ana Couto, Eudócia Tavares Duarte, Isabel Sobreira, Maria Lyra da Cruz e Mariana de Freitas Gomes, tendo como primeira residência a casa nº 302.
Ainda Segundo Ivaneide Severo, enquanto a direção do colégio ficou sob a responsabilidade das professoras Dona Ilda Bilhar e Dona Elisa Marques. A escola destinava-se a formação para moças e organizou seu currículo tomando por base o modelo da instrução oficial. Porém, cuidou de ampliar a formação, preocupando-se com o disciplinamento necessário ao convívio em sociedade das futuras senhoras, ofertando como programa de ensino em seu plano geral de educação, curso primário de acordo com a instrução pública do Estado; curso secundário e normal equiparado a Escola Normal Justiniano de Serpa, da capital – Fortaleza – de quatro anos e curso normal de dois anos. Ofereciam ainda as cadeiras de Psicologia, Pedagogia, Sociologia Educacional, Técnica do Ensino, Higiene Geral e Puericultura.
Um Currículo selecionado para ser implementado de acordo com os critérios estabelecidos pela congregação. Nos primeiros anos o número de alunas matriculadas foi bem satisfatório para as irmãs, o que só cresceu durante alguns anos, sendo necessária a ampliação no que diz respeito a sua estrutura física e sua formação.
Em 1974, tempos de ditadura e reformas do ensino no Brasil, o colégio aboliu o internato, tornando-se misto.
Hoje oferece educação desde o maternal até o pré-vestibular, associando a formação às atividades de sala de aula e às ações de esportes, arte, orientação educacional, psicomotricidade relacional e escola de pais.
Atende aos princípios e disposições da legislação do ensino em vigor, Lei 9394/96, ministra o ensino da educação infantil, fundamental e médio para alunos de ambos os sexos. Possui em sua estrutura pedagógica, gestor(a); coordenadora geral; coordenação pedagógica em cada nível de ensino; serviço de orientação; assessorias pedagógicas; docentes graduados, com especialização, mestrado e doutorado.
A irmã nos relatou ainda que na região como instituição escolar, temos apenas o Colégio Santa Teresa que permaneceu com a missão iniciada desde a sua Fundação.
Ainda segundo Ivaneide Severo, apresenta-se a entrevista realizada com a professora Sarah Esmeraldo Cabral, nos seus mais de 70 anos de idade, ex-aluna do Colégio Santa Teresa de Jesus, professora aposentada da Universidade Regional do Cariri – URCA, grande colaboradora da educação no Cariri Cearense, diz ela: "Fui aluna da 1ª turma do ginásio, fiz pedagógico, fui secretária na implementação da Faculdade de Filosofia da Cidade do Crato, ajudei no processo de fundação Padre Ibiapina, quando sai fiz o curso de Pedagogia na URCA, lembro como eram bem vistas pela sociedade as moças que lá estudavam." (Sarah Emeraldo Cabral, 2006, p. 1).
A professora lembrou ainda que o curso ginasial dava direito à universidade, único em toda a região, lembrando que o colégio atendia até pessoas do estado de Pernambuco. Lembrou que o Colégio tinha a sua própria seleção, pois, não podia receber todos que ali queriam estudar.
No período em que estudou no colégio, a professora Sarah Cabral, relatou que sabia das dificuldades de continuar estudando, pois tinha oito irmãos e não podia fazer a faculdade.
Suas lembranças sobre a escola resgatam as datas de 1940 a 1946, período em que cursava o ginásio, tinha um currículo voltado para a "formação do homem cidadão" oferecendo aulas de boas maneiras; desenvolvimento social, arte, discurso, recital sendo, rigorosamente, acompanhadas pelos professores, sob a direção da Madre Cecília. Diante desta entrevista confirmamos a ideia dos padrões morais estabelecidos pelo colégio bem como a disposição das disciplinas lecionadas, a fim de seguir os "costumes" na formação da esposa, da mãe e da professora com princípios morais exemplares, (Sarah Emeraldo Cabral, 2006.).
Ainda segundo Ivaneide Severo, sobre o cotidiano do colégio onde encontrou notícias importantes que memorizam a época., no Jornal "A Ação", criado na década de 1940.
Nesta mesma edição o jornal traz notícias sobre a publicação da Revista Flâmula, publicada pelas alunas do Colégio, Santa Teresa de Jesus, dirigida por Lêda Leite, Franssinete Cabral, Stela Sampaio, Juliêta Leite, Zuíla Alencar e Djanira Lins, "altos reflexos puro da Pedagogia Católica" (Jornal A Ação_ n° 15, 22/12/1940, p.3).
Como podemos perceber o Colégio Santa Teresa de Jesus sempre ocupa um espaço privilegiado na sociedade Cratense, suas notícias eram publicadas no jornal da cidade, deixando a comunidade informada das suas ações como: Notas de festas e jubileu de ouro (Jornal A Ação, 24/07/1979, p. 7).
Assim Dom Quintino tomou para si a imensa tarefa de dotar as regiões centro e Sul do Ceará (território da diocese que lhe fora confiada) de vários benefícios. Tornando o Santa Teresa uma escola de segundo grau destinada à educação de moças, uma vez que ainda inexistia um estabelecimento com essa finalidade, na vasta área do interior do Estado do Ceará.
A escola manteve o padrão da época, funcionava separadamente para homens e mulheres. Inexistiam as escolas mistas como é praxe, nos dias atuais. E, neste Estado, as poucas escolas de segundo grau para mulheres só funcionavam na capital cearense, distante mais de 600 km de Crato, num tempo quando não havia estradas regulares, nem facilidade de comunicação.
Os contatos entre o Cariri e Fortaleza eram feitos unicamente por telegramas e cartas. Por isso, no território da nova Diocese de Crato, somente as moças pertencentes às famílias bem afortunadas financeiramente podiam se deslocar para a cidade de Fortaleza, a fim de estudar.
Milhares foram às alunas que passaram pelos bancos escolares do Colégio Santa Teresa de Jesus. Muitas ganharam destaque. Citá-las nos levaria a incorrer em graves omissões.
No entanto, algumas mulheres fazem questão de elevar a escola e pode-se encontrar no curriculum de algumas mulheres de destaque no cenário Brasileiro o nome da referida escola: a Luiza Erundina, que foi deputada estadual e ex-prefeita de São Paulo – a maior cidade da América Latina e a sexta maior do mundo; Maria Alacoque Bezerra, nascida em Juazeiro do Norte, a primeira mulher cearense a ocupar uma cadeira no Senado da República; Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaseau, que foi Secretária de Cultura do Ceará e Reitora da Universidade Regional do Cariri e Madre Feitosa, uma das mais respeitadas educadoras do Ceará. Esta além de aluna foi também diretora daquele colégio e se encontra a muitos anos na direção da escola Pequeno Príncipe, no qual foi uma das fundadoras.
A Theodolina Estudante
A figura paterna, temida e respeitada pela família e pela sociedade (patriarcal), era o estimulante para que os filhos homens fossem mais acolhidos e obtivessem todo o respeito possível por parte do pai e dos que o temiam. As filhas mulheres eram preparadas pela mãe para serem donas de casa, unicamente. Assim sendo, qualquer mal comportamento por parte das filhas mulheres, estas, tanto as mães quanto as filhas, poderiam ser punidas pela família e pela sociedade.
Com base nesse conhecimento histórico, acreditamos que com a jovem Teodolina não foi diferente. Acreditamos que tenha sido, influenciada pela presença materna, desde muito cedo, ensinada a ser dona de casa, esposa e mãe. Para isso o aprendizado das jovens era basicamente cozinhar, bordar, costurar, entre outras tarefas estritamente domésticas.
Teodolina, depois de concluir os estudos primários, foi transferida ao Crato-CE para estudar no Colégio Santa Tereza de Jesus, no entanto a educação naquele colégio de base religiosa, também os ensinamentos eram muito parecidos com a educação patriarcal que se tinha nas melhores famílias conservadoras.
Deste modo os registros de Teodolina comprovam, até aqui, o que há pouco descrevíamos. Teodolina era originária de uma família de posses e que viveu em uma época onde a educação feminina era um acontecimento muito recente na História da Educação.
O CADERNO DE TEODOLINA
Teodolina morreu aos trinta anos de idade e neste momento já se dedicava a educação dos filhos e já residia na cidade de Campos Sales-CE a fim de que os filhos estudassem nas melhores escolas. Em Campos Sales estavam as escolas mais próximas e que ofereciam ensino de qualidade para as séries iniciais a que estavam adequados os filhos ainda pequenos.
Exatamente pela tenra idade dois filhos, desconhecedores da importância da figura da mãe enquanto uma mulher a ser lembrada pela sociedade, quase nada se guardou de Teodolina e do que se guardou, pouco resistiu a ação do tempo. No entanto, sua nora Graça Elói, (Esposa de Francisco Torres Pimentel), conseguiu tomar posse de um dos cadernos de Teodolina. O caderno registra atividades da Teodolina Aluna. A letra demonstra o zelo que sempre teve pela educação. Uma das atividades mostra um bordado, certamente atividade de uma das aulas de bordado ministrado pelo Colégio Santa Teresa de Jesus-Crato-CE.