Maria Emília Barbosa de Alencar
Nascimento e primeiros anos da infância
Aos 04 de junho de 1913, em Araripe, Ceará, nasceu a segunda filha do casal Caetano e Emília. A primeira filha, Maria, que nascera após treze anos de casados, tinha falecido ainda pequena e isto trouxera muita tristeza para a família que sonhara com uma numerosa prole. A menininha que agora chegava trouxe muita alegria para o lar e foi festejada por todos os parentes e amigos do casal que gozava de muita estima na cidade e arredores. Na pia batismal a criança recebeu o nome de Maria Emília Rodrigues Barbosa, nome que homenageava sua própria mãe, Dona Emília.
Maria Emília, na sua infância, conviveu intensamente com a realidade do campo, tendo em vista que a família possuía propriedades rurais na "serra" – o sítio Campestre, a Luciana, o Mulungu, dentre outros — isto porque seu pai, Caetano, homem bom e de personalidade forte, era fazendeiro - agricultor e pecuarista - e nestes seus sítios cultivava mandioca, feijão, milho e criava gado leiteiro para corte e, ainda, produzia e comercializava farinha, goma e queijo de excelente qualidade.
Construção do Casarão no Araripe e orfandade
Entre os anos 1913 e 1915, seu pai Caetano construiu o "Casarão" que seria a residência da família na cidade de Araripe, bem de frente à Igreja Matriz de Santo Antônio. A edificação até os dias atuais impressiona porque se assemelha ao modelo da arquitetura do Brasil Colonial, um projeto orientado pelo construtor pernambucano, mestre Antônio. A partir dai o "Casarão" tornou-se o lugar agregador para receber parentes e amigos da família em suas visitas e, principalmente, quando da festa do padroeiro Santo Antônio comemorada em junho.
Em 1922, o pai Caetano, com a sua saúde fragilizada por problemas cardíacos, obrigou-se a transferir sua residência para Senador Pompeu, isto para ficar próximo do Dr. José Alencar, um médico amigo e especialista cardíaco. Entretanto, mesmo recebendo todos os cuidados disponíveis à época, veio a falecer em 19 de junho de 1923, em Araripe. Maria Emília, então com dez anos, agora se tornava uma criança órfã de um pai muito querido.
O internato no Colégio Santa Tereza, no Crato
Dona Emília, a mãe agora viúva, se preocupava com a formação religiosa e educacional da filha e, intencionando realizar o sonho do seu esposo Caetano, buscou o caminho que se oferecia mais apropriado para tal que, indiscutivelmente, foi a internação da filha no colégio recém-fundado pelo bispo diocesano do Crato, Dom Quintino. Assim, em 1924, Maria Emília tornou-se uma das centenas de crianças e adolescentes internas do educandário Colégio Santa Teresa de Jesus das irmãs de Santa Teresa, dirigido pela Madre Ana Couto e o Cônego Feitosa, na cidade do Crato, esta cidade vocacionada para a educação. Por ser órfão, seu tutor passou a ser o primo Alexandre Arraes de Alencar, carinhosamente apelidado de "Xânde". Assim, a casa de seus padrinhos José Almino e Benigna Arraes, em Crato, passou a ser o seu segundo lar e os laços afetivos com suas primas Anilda, Almina, Lais e Violeta Arraes ficaram ainda mais fortes.
10 anos aprendendo a ser educadora e desenvolvendo habilidades artísticas
O Colégio Santa Teresa foi o responsável por sua educação formal que durou dez anos e, ao concluir o 4° Normal em 1934, Maria Emília estava habilitada como professora. O internato lhe proveu de uma educação formal e religiosa e descobriu habilidades, tais como a música, o desenho com crayon, pintura a óleo e datilografia!
Retorno ao Araripe como professora: fundadora das Escolas Reunidas do Araripe e do Curso de Datilografia Mercedes
Após sua formatura, Maria Emília foi contratada pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará para atuar na sua cidade natal. Em 1935, com a amiga e também professora Maria Augusta Paiva, organizou as Escolas Reunidas do Araripe que, inicialmente, funcionou na Rua Grande no prédio ainda existente. Hoje a Rua Grande é denominada de Alexandre Arraes, aquele que fora seu tutor.
Como educadora e com a visão de futuro que sempre lhe foi peculiar, percebeu que a carência educacional no Araripe ultrapassava os limites da educação formal. Assim, no sentido de compartilhar o aprendizado que tivera no Colégio Santa Tereza, fundou o Curso de Datilografia Mercedes para jovens e adultos e que ao final recebiam o "Diploma de Habilitação em Datilografia". Os primeiros formandos foram Juvina Furtado, Alencar Furtado e Carlos Salatiel de Alencar, o jovem que viria a ser seu esposo.
Devoção por São Sebastião e Santo Antônio
Católica, Maria Emília era devota de São Sebastião e de Santo Antônio. Emocionava-se com o canto em louvor ao padroeiro da cidade e fazia parte do coro de vozes contritas e fervorosas no novenário na Igreja Matriz ou quando os hinos eram tocados magistralmente pela Banda de Música de Araripe sob a regência do maestro Francisco Nunes ou pela banda de música do Maestro Azul, do Crato. Outras festas religiosas preenchiam seu coração de alegria: a coroação de Nossa Senhora pelos anjinhos no dia 31 de maio e a "lapinha" dos festejos natalinos organizados por sua madrinha Liu.
O casamento com Carlos Salatiel de Alencar e falecimento de sua mãe
Maria Emília casou-se com Carlos Salatiel de Alencar em 27.10.1940, filho de Ranulfo Salatiel de Alencar e Isabel Batistina Pereira de Alencar, pertencente à tradicional família do tronco Alencar. As cerimônias aconteceram no Casarão dos seus pais Caetano e Emília. A cerimônia religiosa foi presidida pelo Padre Antônio Costa e o casamento civil realizado pelo juiz de Direito da Comarca de Araripe, Dr. Cândido Couto. Foram testemunhas dessas solenidades Anilda Arraes de Alencar (prima), Antônio Almino Sobrinho (primo), Antônio Moacir de Alencar (cunhado) e Adair Salatiel de Alencar (cunhada).
Em 1941, Maria Emília lamentou e chorou a perda de sua mãe Dona Emília, também vitimada por problemas cardíacos.
Perseguição política
Sendo professora do Estado, em setembro de 1945, no governo do interventor Francisco Menezes Pimentel e por perseguição política de adversários do seu esposo Carlos Salatiel de Alencar, Maria Emília foi transferida para a cidade de Jardim. Na ocasião estava no 8º. mês de gestação do seu 4º filho e não aceitou a transferência. Por essa desobediência à ordem do Padre Bruno, então Secretário de Educação do Estado, a educadora foi demitida de sua função de professora das Escolas Reunidas de Araripe. Coincidentemente, no dia em que nasceu sua filha Emília Maria (26/10/1945), ela recebeu a "boa notícia" de que o então governador Menezes Pimentel havia sido deposto. Assim, foi readmitida e assumiu suas funções após gozar a licença maternidade.
Saída do Araripe para Juazeiro do Norte para educar os filhos
Em 1959, com 10 filhos, antevendo que a cidade de Araripe não oferecia condições para educar formalmente sua numerosa prole, Maria Emília e Carlos resolveram residir em Juazeiro do Norte, decisão esta favorecida porque seu esposo assumiria a função de Inspetor da Sul América, Cia.de Seguros de Vida, que tinha sua sede regional naquela cidade que já venerava a memória do seu fundador padre Cícero Romão Batista e adorava Nossa Sra. Das Dores, sua padroeira.. O lar da família agora era a capital da fé do nordeste.
Em novembro de 1959, em Juazeiro do Norte, nasceu sua 12ª. filha que na pia batismal recebeu o nome da padroeira da cidade - Maria das Dores - por um justo sentimento de gratidão à cidade que acolheu tão bem toda a família e propiciou aos filhos uma educação escolar de muita qualidade.
Em 1960, após 25 anos de dedicação ao magistério, Maria Emília 'aposentou-se.
Pergunta-se: qual é o legado da educadora que dedica 25 anos de sua vida ao magistério? Não deixou nenhuma praça, nenhuma rua asfaltada, nenhum edifício construído com dinheiro público, mas somente plantou a semente do conhecimento no coração e mentes das crianças e adolescentes para que se tornassem pessoas de bem, seres humanos que pudessem transformar o mundo num lugar melhor para se viver.
Mudança para a cidade do Crato e depois para Fortaleza, a capital cearense
Em 1970, por uma opção do esposo Carlos que tinha irmãos e muitos parentes na cidade, a família transferiu-se para a cidade Crato. Não houve qualquer problema em adaptar-se a esta nova cidade, tendo em vista que era a cidade onde se formara, onde moravam muitos parentes e conterrâneos do Araripe e onde estudaram seus dois filhos Francisco e José, seminaristas do Seminário São José desde adolescentes.
Na década de 70 e nas posteriores, a vida propiciou o que já era esperado dos filhos: formaram-se, casaram (ou não), tiveram filhos (ou não), alguns foram morar em outros estados (Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Fortaleza), seguindo a dinâmica que a vida exige, e no final dos anos 80, o casal Maria Emília e Carlos vai morar em Fortaleza e no seu novo lar acolhem alguns netos que se preparavam para ingressar na universidade.
Aos 80 anos, retorno ao Cariri para ficar mais perto do Araripe
Em 1993, após essa temporada capital do Ceará, ocorre o retorno ao Crato. Neste mesmo ano foi comemorado os 80 anos de Maria Emília nos jardins de sua atual residência, na Av. Pedro Felício Cavalcante, 1892, no bairro Granjeiro em Crato/CE, encerrando o grande ciclo de andanças e mudanças em busca de novos horizontes para a sua família, agora com a certeza de missão cumprida.
Missão Cumprida: A educação dos filhos como patrimônio valioso
Como educadora por excelência, Maria Emília e seu esposo Carlos encaminharam seus onze filhos (foto 15) no bom caminho para que lograssem êxito na vida profissional, cultivando os valores da moral e da ética na vida compartilhada em sociedade e, por isso orgulhavam-se das conquistas exitosas dos seus filhos e netos.
Francisco, o primogênito, teólogo, padre e doutor em estudos bíblicos (Roma, Alemanha e Jerusalém), professor da UNB e doutor em Antropologia Social pela UNB; José, Bacharel em Direito (UFC e GUARULHOS), funcionário do Banco do Brasil S.A e da Justiça do Estado de São Paulo; Socorro, Professora (curso Normal) com Licenciatura em História (URCA), Bacharelado em Economia (UECE), Funcionária da Caixa Econômica Federal e bacharelado em Psicologia (UNIFOR); Emília Maria, professora (curso Normal) e licenciatura em Biologia (URCA); Ana Maria, professora (curso Normal) e funcionária da Justiça do Estado do Ceará; Antônia Enedina, professora (curso Normal) e funcionária do Banco do Brasil S.A; Isabel Maria (Isa), professora (curso Normal) e Licenciatura em Geografia (URCA); Iracema, médica (UFC) com residência em Hematologia e especialização em Imunogenética (New York, USA)); Luiz Carlos, Licenciado em Letras (UFC), artista (música, teatro e cinema e literatura), produtor cultural, funcionário do Banco do Brasil S.A; Maria do Carmo, funcionária do Banco do Brasil S.A.; Maria das Dores (Nena), Licenciatura em Letras (UFC) com habilitação na Língua Francesa, professora do Centro de Línguas do DF, Brasília.
Conforme visto, seus filhos se formaram e ocuparam postos de destaque na vida profissional, em Crato, Juazeiro do Norte, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, sem esquecer as suas origens araripenses, um vínculo afetivo sempre estimulado por seus pais e que agora também transferem este "amor" para seus filhos e netos nos encontros que ocorrem no Casarão de Araripe - "o lar da família Rodrigues Barbosa Salatiel de Alencar", o lugar predileto para os encontros da família nas festas do padroeiro Santo Antônio.
Maria Emília de Alencar Barbosa faleceu no dia 04 de novembro de 2008, em Fortaleza, aos 95 anos. Foi sepultada no túmulo da família, em Araripe, onde descansa ao lado do seu esposo Carlos, seu filho Sebastião e seus pais Caetano e Emília.