Zé Oêmio
Após sugestão de Leônidas Timoteo, José Oêmio Timoteo de Arruda foi o nome escolhido por Augusto Arruda de Sousa e Maria Timoteo de Sousa para seu 7º filho, um menino que nasceu em 29 de agosto de 1951 no Sítio Paraguai, no município de Bonito de Santa Fé, no sertão da Paraíba.
Mais um integrante de uma família numerosa, neto de José Arruda de Sousa e Arinda Gonçalves Lima (avós paternos) e Capitão Francisco Timoteo de Sousa e Josefa Cavalcante de Arruda (avós maternos), sobrinho de trinta e um tios.
Era chamado por seu pai de José, por sua mãe de Oêmio, já para os seus oitos irmãos era Dó. Com eles, viveu uma infância pobre, porém muito feliz, na zona rural daquele município, dedicando-se às atividades agropecuárias desenvolvidas por seus pais.
Acordava ainda pela madrugada (hábito mantido durante toda sua vida), para ir ordenhar vacas no curral e cuidar dos animais e da roça. As brincadeiras trouxeram o gosto doce para sua infância. Era muito bom no pião. Não possuiu a gaita que tanto sonhava.
Embora trabalhando, o estudo nunca foi deixado de lado. Era prioridade. Incentivado, cobrado e acompanhado por sua mãe, iniciou suas primeiras lições em casa. Depois frequentou uma escola situada no sítio Paraguai, onde foi aluno de D. Naninha. Depois disto passou a estudar com a professora D. Maria Donária, pela qual sempre carregou profunda admiração, pois proporcionou a ele e a muitas crianças daquele município o privilégio do saber, em um momento da história que havia tanta dificuldade no acesso ao estudo e a escolaridade. Ia para escola a pé ou em algum animal, com seus irmãos, para a cidade, com o pouco material em uma sacola. O tempo era de dificuldades, mas de muita dedicação e valorização por cada aprendizado, por cada pão. Início da estrada vicinal que dá acesso ao Sítio Paraguai, sinalizada nos dias atuais, e a casa em que José Oêmio nasceu neste sítio.
Primeiras lições...
Sua mãe, Maria Timoteo, gostava de contar uma passagem de quando José Oêmio estava aprendendo a soletrar:
- Oêmio, B + U + L + E?
- Não sei...
Insistia:
- Oêmio, B+U+L+E?
- Não sei, mamãe!
Já sem paciência:
- Oêmio, onde é que a gente coloca o café, que começa com "B"?
- Na boca, mamãe!
Com os olhos marejados, D. Maria concluía sua narrativa: "E eu dei nele. Mas ele estava certo!"
É. Resposta certeira de um menino muito inteligente e espirituoso, características que sempre o acompanharam. Estudou até a oitava série no colégio Estadual Monsenhor Morais na cidade de Bonito de Santa Fé, saindo para capital do Estado, João Pessoa, – após 3 dias de choro, pois deixar o amado Sítio Paraguai e o aconchego do lar era de uma dor imensurável –, para realizar o ensino médio (no tempo chamado de científico) e ingressar em uma Universidade Pública. Neste período, residiu na casa do estudante, tempo de muito sufoco, mas que renderam muitas histórias para contar e amizades sinceras. Voltava para casa apenas duas vezes durante o ano, em transportes precários e viagens difíceis, e comunicava-se por cartas. Para manter-se, trabalhou em uma loja de tecidos e depois na SAELPA (distribuidora de energia elétrica), e também como professor. Prestou vestibular várias vezes para medicina, curso de seu grande desejo, entretanto não obtendo êxito. Foi quando decidiu fazer a prova para Engenharia Agrônoma, passando na primeira tentativa, em 1973. Cursou na cidade de Areia – PB, na Universidade Federal da Paraíba, onde adquiriu o apelido de Querosene. Conclui o curso em 1978. Iniciaria neste momento uma nova etapa de sua vida.
A dois...
Apesar de serem do mesmo município, Iraci Pereira Dias – filha de Pedro Gonzaga e Doralice Dias –, e José Oêmio Timoteo moravam em sítios distantes para a época de meios de locomoção precários e escassos. Conheceram-se no natal de 1969 em Bonito de Santa Fé, quando se iniciou o flerte. Caiu nas graças dos seus sogros. O namoro começou em janeiro de1970. Nesta época, Oêmio já residia em João Pessoa - PB, quando tentava ingressar na faculdade de medicina, e então perguntou a sua amada: "Espera-me por seis anos?" Ela respondeu positivamente. E esperou nove! A trocar cartas e juras de amor, o tempo se passou e chegou o grande dia: 08 de setembro de 1979. A sociedade bonitense recebia um novo casal, que seria exemplo de cumplicidade, respeito, afeto e da eternização de um sentimento. Dois anos após esta marcante data, chegava ao mundo seu primogênito Klênio Dias Timoteo, em 5 de novembro de 1981. Em maio de 1984, nascia a segunda filha, Indra Dias Timoteo. A família estava completa. José Oêmio passou a exercer seu mais brilhante papel: o de pai! Pai presente, pai amigo, pai educador. Fez da sua casa um lar sagrado e teve a educação dos filhos como seu maior objetivo. A sua integridade, respeito e honradez foram e são exemplo. Ver os filhos formados seria sua maior realização.
Realizou-se.
Viu seu filho tornar-se Engenheiro Eletricista pela Universidade federal de Campina Grande, tenente da Aeronáutica em 2005 e Engenheiro da Eletronorte – grupo Eletrobrás em 2008. Em 2010 viu sua filha tornar-se farmacêutica pela Universidade Estadual da Paraíba. Sentiu-se com o dever cumprido. Foi porto seguro para toda a família em momentos muito difíceis. Enfrentou a dor pelo falecimento do seu pai em 1990, um infarto em 1998, a perda da sua avó paterna em 1999, do cunhado José Ivaldo em 2002, do seu irmão Nivaldo em 2006, a perda da sua mãe em 2007, e da sua sogra em 2009.
Em maio de 2009, após uma convulsão, recebeu um diagnóstico equivocado que teria sofrido um AVC. Um período turbulento se anunciava. Em agosto do mesmo ano, veio a triste notícia: um glioma localizado em seu cérebro, agressivo, daria início a uma árdua luta. Com fé e perseverança, passou por uma cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Registro da formatura e ingresso do filho Klênio Dias Timoteo na Aeronáutica, em Belo Horizonte – MG. José Oêmio, seus filhos Klênio e Indra, e sua esposa Iraci. Em 02 de agosto de 2010, porém, em Bonito de Santa Fé – PB, foi vencido pelo câncer. Após um ano de batalhas travadas e postura corajosa, foi sepultado naquela cidade. Momento de tristeza imensurável para sua família e amigos.
Partiu. Mas foi imortalizado. Não se morre o homem com este legado. Deixou suas marcas, seus feitos, e as lembranças naqueles que tiveram a felicidade de conhecê-lo nesta jornada.
Eternizou-se. "Quando meus filhos disserem a meus netos o quanto eu os amava e quando meus netos disserem a meus filhos que guardam lembranças minhas e de mim sentem saudade, não terei morrido nunca, serei eternidade." [Ronaldo Cunha Lima]
Seu filho casou-se em 2011 com Gabriella Lima. Seu primeiro neto nasceu em 2013 e sua segunda neta em 2015: Daniel e Isadora, respectivamente. Como se vê essa história ainda não acabou.
Curiosamente... Sr. José tinha paixão por cavalos e por sua criação de gado leiteiro. Todos eram batizados. Seu último cavalo se chamava Baluarte (ainda vivo), denominação dada a muitos equinos que passaram por sua vida. Cada vaca tinha seu nome escolhido com carinho. Na hora da ordenha, as chamava por eles, e as mesmas, ao ouvir, atendiam e vinham ao seu encontro.
Oêmio também foi um bom jogador de vôlei. Entretanto, seu esporte preferido era a vaquejada. Ganhou vários troféus. Gostava de reunir os amigos, conversar, contar anedotas, e servir uma boa cachaça para animar as rodas que se formavam ao seu redor.
Bebia apenas socialmente. Porém certa vez se embebedou devido a uma buchada azeda servida. Para não desagradar os donos da casa, comeu o alimento, mas a cada mordida, um gole de água-ardente servia para disfarçar o gosto e o desgosto.
Seus gêneros musicais preferidos eram a seresta, o sertanejo raiz e o forró pé-de-serra. Exímio dançador. Seus últimos cachorros chamaram-se Radar e Sheik. Este, quando em longa ausência do seu dono para tratamento de sua doença, ao reencontrá-lo no primeiro retorno a sua casa, morreu do coração com a emoção.