Enoque do Arruda
Enoque Antônio do Nascimento, nasceu aos 19 de junho de 1928 no Sítio Coqueiro-Araripe/CE. Filho de Antônio João e Maria Verônica. Seus pais advindos da cidade de Cabrobó, no vizinho estado de Pernambuco.
Desde muito jovem se dedicou aos trabalhos campesinos com o pai e os seus 13 irmãos. Juntos a eles enfrentou o sofrimento que todos os sertanejos enfrentam quando castigados pelos anos de seca que nem a fé em São Sebastião, padroeiro daquele povoado foi capaz de sanar tal flagelo.
Casou-se aos 21 anos de idade, em 29 de junho de 1949, com Francisca Claudina da Conceição. Conterrânea sua, mas recém-chegada da cidade de Fortaleza, onde vivera sua infância e parte da adolescência. O casamento deu-se na Capela do Sagrado Coração de Jesus do Distrito Alagoinha sob as bênçãos do padre Baldomírio Rodrigues. Frutos do casamento, nasceram dez filhos, mas as dificuldades próprias da vida humilde e sem adjutórios, apenas dois filhos venceram as dificuldades. São eles: Raimundo e Socorro.
Nascido, criado e arraigado a vida do campo, herdou uma faixa de terra de seu pai no Sítio Coqueiro-Araripe/CE, onde residia, até um dia ver-se afrontado nas suas próprias terras por um dos seus vizinhos possuidor de rebanho bovino. Para a paziguar a situação e não deixar queixas, vendeu as terras ao mesmo vizinho que lhe incomodara e adquiriu a mesma quantidade em outro sítio do mesmo município, optando, portanto, desta vez, pelo Sítio Arruda, aonde adquiriu terras da propriedade de Luiz Estevão.
Seu Enoque chegou ao Sítio Arruda em agosto de 1983, trazendo na algibeira a mulher, os dois filhos, a coragem de trabalhar e a posse de 80 tarefas de terra. Nada mais!
A sua mudança para o Sitio Arruda despertou interesse em parentes e amigos. E, sete famílias lhe acompanharam com certa brevidade.
Com a ajuda de mulher e filhos construiu uma casa de taipa, construção simples que se utiliza de madeira e barro. Continuou cultivando feijão e milho, culturas já conhecidas no Sítio Coqueiro, mais o cultivo da mandioca, comum e apropriada as terras aonde chegara.
Raimundo, seu filho, casou-se um ano depois, em 1984. Mas nunca deixou os pais, a fim de ajudar-lhes na vida do campo.
Com o trabalho incansável e o resultado do cultivo da mandioca, seu Enoque adquiriu mais 30 tarefas de terra de propriedade de Manoel Mundoca. Em seguida acrescentou destas, mais 20 tarefas de propriedade de Manoel Lima. Agora já contava 50 tarefas adquiridas com muito trabalho. Juntada as 80 tarefas que correspondiam a sua parte na herança paterna. Tanta terra era sinal de muito trabalho feito e muito a se fazer.
Em 1993, aposenta-se pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Chegava a hora de receber do estado parte do que tanto contribuíra. Com o advento da aposentadoria a vida melhorava. Sua esposa e filhos não chorariam mais a falta de alimento. Não deixaria mais a família em casa desprotegida a fim de subir as serras e trabalhar noite e dia para alimentá-los. O costume do trabalho não daria descanso, mas a necessidade enfim, cessara. Vida simples, sem conforto, sem luxo, mas com o carinho da família que agora poderia contar com a sua presença efetiva.
Estando mais em casa do que em sua roça ou nas roças alheias, se deu conta da necessidade de construir uma casa de tijolo, assim satisfaria um desejo da esposa. Antônio Lourenço, seu vizinho, pedreiro, construiu a casa em uma semana. É nesta mesma casinha simples onde Seu Enoque e sua família se refugiam ainda hoje.
A fé e a devoção de Seu Enoque e sua família está alicerçada em três pilares: São Sebastião, santo que tomara conhecimento ainda no Sítio Coqueiro, Nossa Senhora Aparecida – padroeira do Sítio Arruda – e São Francisco, santo que ainda festejou em sua residência.
A culinária da família não conta com nada em particular, mas muito peculiar da vida do campo e da simplicidade que não escondem em nenhum momento. O milho esteve sempre presente como base alimentícia e dele se derivam muitos pratos, desde a pipoca torrada no caco para a merenda, pão de milho para o almoço e o mungunzá para o jantar. Para as noites de São João e São Pedro, bolo de massa azeda de mandioca assado em folhas de bananeira. Tudo muito simples.
Eis o relato da vida de Seu Enoque Antônio do Nascimento. A dedicação ao trabalho e a família estão sempre presentes desde o primeiro parágrafo. Se a vida lhe foi justa lhe acrescentando os dias de vida, mas a saúde puniu-lhe. Encontra-se debilitado, mas enfrentando o destino e colaborando como pode. Concede entrevistas a quem precisar saber de qualquer assunto que envolva sua vida e daqueles que residem no Sítio Arruda, hoje Comunidade Quilombola.