Bárbara de Alencar
BÁRBARA PEREIRA DE ALENCAR
Filha de Joaquim Pereira de Alencar e Teodora Rodrigues da Conceição. Nasceu em 11 de fevereiro de 1760 na Fazenda Caiçara (Exu-PE), propriedade herdada de seu avô Leonel de Alencar Rego, onde viveu até seus 22 anos quando se casou com o português, Capitão José Gonçalves dos Santos, comerciante do ramo de tecidos na Vila do Crato, onde passou a residir. Todavia, por não se acostumar com o cotidiano local, atraiu seu esposo para Fazenda Pau Seco, nas proximidades da vila, que sob sua direção tornou-se a melhor fazenda da redondeza.
Do casal Bárbara de Alencar e José Gonçalves nasceram cinco filhos: João (1783), Carlos (1784), Joaquina (1787), Tristão (1789) e José Martiniano (1794). Por ser muito religiosa e ligada por laços de grande amizade ao vigário colado do Crato Pe. Miguel Carlos da Silva Saldanha e ao frei Francisco de Santana, da Vila de Barbalha, entregou a eles a educação primária de seus filhos, sendo estes orientados no sentido do sacerdócio católico. Ordenou-se Pe. Carlos pelo seminário de Olinda em 1806 e José Martiniano também cruzou os portões do mesmo seminário levado por ela.
Bárbara de Alencar não nasceu revolucionária. Absorveu a ideia libertária por influencia do botânico Manoel de Arruda da Câmara e dos integrantes do Seminário de Olinda, de quem contava com amizade, admiração e respeito.
Como membro do partido Liberal, como líder familiar e figura de destaque na sociedade, abraçou sem restrições a causa da Revolução Pernambucana de 1817 que chegou ao Cariri por intermédio de seu filho, o diácono José Martiniano de Alencar, que foi a peça fundamental para a proclamação da república do Crato, em 3 de maio de 1817. Sonho esse que teve a duração de apenas oito dias. Com a reação dos conservadores, restaurou-se o governo monarquista no Crato, com a prisão de seus principais líderes, entre eles dois de seus filhos, Tristão Gonçalves e José Martiniano de Alencar.
Por não se encontrar na Câmara Municipal na ocasião das prisões, Bárbara de Alencar conseguiu escapar. Livrou-se da milícia do Tenente-coronel Leandro Bezerra Monteiro, que mandara prendê-la como chefe visível da revolução. Sua prisão deu-se posteriormente, quando entregue aos representantes dos reinóis, foi mandada a ferro para Fortaleza, onde permaneceu enclausurada até ser enviada para o Recife e de lá para Salvador, onde cumpriu pena por um período de três anos e meio de trabalhos forçados.
Livre do cárcere, quase quatro anos depois voltou a sua terra, mas sequer teve tempo para descansar. Insatisfeita com os rumos da independência do país, envolveu-se mais uma vez num movimento com vistas á instituição de uma República: a Confederação do Equador, que a exemplo da Revolução de 1817, foi debelada pelas forças do imperador. Nesse movimento, perdeu dois filhos, o padre Carlos José dos Santos Alencar e Tristão Gonçalves de Alencar. Perseguida e caçada por o chefe corcunda, Joaquim Pinto Madeira, o maior inimigo da família Alencar, Bárbara retirou-se para a fazenda Caiçara, e de lá rumou para Oeiras no Piauí, retornando somente para as festas da passagem do ano de 1826 para1827, por insistência de seu filho José Martiniano de Alencar.
Em 7 de abril de 1831, abdicou o imperador D. Pedro I, época em que o liberal José Martiniano já havia sido eleito para a câmara como representante das províncias do Ceará e de Minas Gerais, fato que muito desagradou os monarquistas. Joaquim Pinto Madeira e seus partidários ainda dominavam toda região do Cariri e do Alto Jaguaribe, onde mandava e desmandava em nome do imperador. Assim sendo, em 27 de dezembro de 1831, juntamente com o vigário Manoel Antônio de Souza e com o auxilio de 5.000 homens comandou a rebelião contra a Regência e declarou a restauração do trono imperial. Tomaram de assalto as câmaras de Jardim, Crato, Missão Velha, Barbalha e Exu, prendendo os liberais e assassinando os fazendeiros que demonstrasse a menor reação.
Temendo por sua vida e a vida de seus familiares, Bárbara de Alencar retirou-se urgentemente da Fazenda Pau Seco, a cavalgada, para o Exu e dali para a Fazenda Alecrim no Piauí, onde recebeu a notícia da prisão de Pinto Madeira e da liquidação total da rebelião. Contava na época com mais de 72 anos. O desejo de retornar ao Pau Seco e dormir seu último sono ao lado de seu esposo José Gonçalves dos Santos tornou-se inviável. Estava muito doente, não resistiria a viagem para o Cariri nem mesmo de liteira. Por esse motivo, teve os preparativos para a viagem interrompidos por seu filho João Gonçalves que fora buscá-la. Diante dessa situação, faleceu ali, onde chorou suas angustias e viveu suas saudades, em 28 de agosto de 1832.
Portanto vale aqui uma importante afirmação: Bárbara de Alencar nasceu no Exu, viveu no Crato, morreu em Fronteiras no Piauí e está no Itaguá, distrito de Campos Sales, sepultada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, cuja construção data de 1755.